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domingo, 30 de dezembro de 2007

desafio, mais um !


desafio, mais um !

do topo do afloramento granítico tudo avistava,
visão real da brutal geografia local,
presente para um esforço despendido,
esforço egoísta, esforço matador,
finalmente o fim de uma fome que estava difícil de saciar,
havia já semanas, não havia forma de acabar !
assim que os avistei ... fui conquistado !
finalmente algo á altura,
um desafio que eu ..
da minha vaidade ... subestimei ...
sub-avaliei a dificuldade,
a sua transponibilidade !
facilitei mais uma vez !
mas são estes os objectos,
a razão desta minha potência,
desta busca incansável,
uma procura sem fim à vista !
este valeu-me mais um nível pessoal,
senti que a exigência foi demais,
nunca até agora tanto,
sei que nos últimos cinquenta metros,
já a ver o marco geodésico a apontar o céu,
eu não me lembro de respirar,
arfava com um cão,
como se estivesse com uma trela preso a um punho de aço,
essa gravidade, não nos deixa voar ...
cada rocha, cada inimigo ...
lançava-me em raiva,
mão a mão, pé a pé,
subindo ... sem parar ... sem respirar ... o topo ...
dois calhaus apenas me separavam do céu,
num ... o marco ... o objectivo primeiro ...
noutro ... mesmo ao lado ... o acesso ...
este será a rampa para tomar o outro ...
o salto final ... depois de a trepar !
sem sequer olhar para baixo,
ouvi o meu pai gritar algo,
não consegui perceber,
a minha respiração não deixou ...
um, dois passos atrás,
observo mais uma vez,
imagino o salto,
programo-o conforme anteriores efectuados,
precisão ... não consigo respirar fundo ...

vou ... estou ... rodopio feito tonto ...
contente ... consegui !
num ataque de tosse,
resultado do esforço e da emoção,
aceno ao meu pai, tento gritar-lhe algo ... impossível !
as gotas de suor nos olhos tudo deformam,
não largo o pilar por nada, é meu ... mereço-o !
cinco quilómetros para subir quinhentos e trinta metros,
eu escolhi o caminho, não foi o fácil, nunca é !
o meu pai sabe,
mas nem por isso deixou de me acompanhar,
sempre comigo até onde lhe foi possível ...
o sangue é o mesmo ... o meu .. é o dele !

Dio Dast

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Gimme Chelas ( microfilme de Rui Reininho produzido para a 1ª edição Festival Microfilmes)