quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

idade pesa !


idade pesa !

o seu calhambeque embaciado,
guincha e tremelica no meio do fumo que faz,
o barulho é tanto, tanto,
que para não acordar os vizinhos,
ele tira-o do quintal empurrando-o !
como único meio de transporte,
ele utiliza-o nas as suas deslocações,
serve para tudo menos para viagens grandes,
a idade pesa no material,
e no dono !
constantemente de volta da sua mecânica,
nada fica por rever todos os dias,
afinal, o tempo tem destas vantagens !
aposentado com uma reforma de sobrevivência,
prefere passar alguma fome a parar a sua máquina,
reminiscência única de uma vida árdua,
de trabalho suado e de lágrimas vertidas !
magro e pálido de olhos bem cavados,
é o primeiro a acordar todos os dias,
deita-se cedo, muito cedo,
não tem companhia humana,
e o seu brinquedo ...
em casa não pode ficar,
embora vontade não lhe falte !
resto de uma vida de luta e trabalho,
vive neste hábito diário,
pouco mais pode fazer,
de carteira vazia ... não vive do seu cotão !
pelos filhos abandonado,
emigrantes de nariz empinado,
não conhece os seus netos !
renegaram a sua origem,
espezinharam o esforço efectuado,
dos tempos difíceis ultrapassados,
das privações e infelicidades vividas,
pelos seus pais para serem criados !
mas ele tem a sua máquina,
fiel companheira de fim de vida,
esta sim ... sempre agradecida,
pronta para tudo,
faça chuva ou faça sol,
retribuirá sempre a atenção e dedicação,
sem reclamações ...
nem lamentos ...
sozinhos seguem juntos,
neste mundo que lhes é torcido,
vão-se desviando das adversidades,
vão lutando como podem,
vagarosamente avançando,
dia a dia ...
juntos ...
vão ...

Dio Dast

( tristeza profunda cada vez que vejo situações semelhantes a esta ... ira ... raiva ... )

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