quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

adormeci !


adormeci !

o caminho escolhido depois de ultrapassar o desfiladeiro apresenta-se como um salto livre no ar, imensidão tamanha, acastanhada, lisa, perde-se no horizonte, parece não ter fim... acalma-me o espírito !
numa pequena rocha sento-me a descansar, respiro fundo, tento relaxar, fiz tanto para aí conseguir chegar ! avanço confiante recarregado de ânimo, passo a passo vou andando, ervas pequenas, curtas, roídas, serviram de alimento, concerteza, a animais que por aqui antes de mim passaram !
está frio !
protejo-me e continuo, olho em volta, nem sinais de vida para comunicar, mas é tão bonita esta paisagem !
... linda !
o frio continua a aumentar, uma brisa gelada começa a soprar ... junto ao chão, as pequenas ervas parecem retrair-se, na terra proteger-se ...
uma nuvem enorme e escura avisto ao longe, dirige-se para aqui ... detenho-me a observar, talvez com uma fotografia capturar, imagem imponente guardar, parece valer a pena, não se demora em aproximar ...
a brisa muda ...
o que sinto também !
brisa transforma-se em vento, gelado e sombrio, parece carregar consigo um peso duro de se suportar, o silvar provocado são como uivos, gritos perdidos de almas roubadas, de almas perdidas ... tremo !
procuro abrigo, planície estéril sem refúgios, numa pequena vala, rasa e seca, de um antigo curso de água tento-me esconder, não tenho mais nenhuma hipótese, nuvem e vento terei de enfrentar, deitado na lama ressequida o frio é de matar ...
mas que nuvem é esta ?
são ...
animais ...
avançam a uma velocidade incrível, parecem assolar tudo à sua passagem qual horda selvagem e destruidora que assola, pilha, viola tudo a sua passagem, como se nada se lhes opusesse, nada ... nem ninguém, existem para assombrar !
encolho-me, enrolo-me o mais possível, tento-me proteger o melhor que posso, tenho medo ...
o barulho aumenta ...
estão quase a chegar ...
é agora, sinto o chão tremer, ou sou eu ...
pressinto a chegada, sei que estão a passar !
mas não sinto nada, ainda estou de olhos fechados, receio visão prevista ...
o vento está a abrandar, numa brisa suave se está a transformar, os meus olhos teimam em abrir, o que vou encontrar ?
encho-me de coragem, não sei o que vou enfrentar ...
terei de combater ? ... por quem ? ... porquê ?
já chega, medo de merda, porque me estás a paralisar !
não sou eu que aqui estou ... custa-me acreditar, ter-me-ei transformado num merdoso amedrontado ?
recorro à bravura de antigos tempos, tempos de conquistas, méritos sem parar ...
levanto-me, abro os olhos ... que espanto ... nada ...
nada se alterou, a paisagem está igual, está calor, o sol brilha radiante ...
viro-me e olho para trás ...
... o desfiladeiro !
estou aqui ?
adormeci !

Dio Dast

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